quinta-feira, 4 de julho de 2013

Bala perdida


No meio da turba que vai e vem rumorejante ergue-se uma mão macilenta, encrespada como se brotasse entre o rejunte do paralelepípedo – gritando surdamente por socorro. A multidão embalada num coro confuso de vozes passa apressado em todas as direções. Resvalam, atropelam, mas ninguém vê ou finge não ver o sofrimento mudo estrebuchando estirado no cimento.
Ela viera zumbindo, quente, certeira e alojara-se traiçoeiramente em suas costas sem ao menos pedir CPF ou permissão. Uma alma caridosa alivia de seu braço o peso do relógio, da aliança. Com carinho outra revista cuidadosamente os bolsos. O sol cede espaço, a noite compadecida sopra jornais relidos e amassados sobre o corpo enregelado, encostado ao meio fio “assim não atrapalha o trânsito”. 

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