quinta-feira, 9 de maio de 2013

Emboscada


O estampido soou como uma tijolada no telhado de zinco. Sobressaltado deixou o fuzil de longo alcance acoplado com uma luneta escorregar dos dedos trêmulos. Do lado esquerdo, abaixo do queixo tremido, eclodiu uma mina de cores vivas, quente, viscoso. Teve o inerte impulso de levar a mão para estancar o vazamento, mas o movimento não aconteceu. Uma grande sombra interpôs-se entre o sol e sua visão baça. O homem pacientemente descansou a arma no coldre e, com um lenço vermelho, limpou o suor da testa. Ainda como que se certificando da conclusão do seu trabalho, com a ponta do sapato cutucou o tênis estirado, tingido de vermelho, sem vida. Na avenida, cinco andares abaixo, o cardeal seguia seu trajeto festivo recebendo o cortejo dos fiéis apinhados nas calçadas, portas e janelas com bandeirinhas, chapéus e rojões.

2 comentários:

Marcos de andrade disse...

Teu texto abre um leque para criação, por que deixa o leitor pensando: quem é esse atirador, quem é o atingido, o que tem a ver o cortejo. Ai pode começar uma boa história.

Abraço.

Jose Mattos disse...

Verdade. É como dizem os grandes Mestres, a gente não termina um texto, abandona-o. Mas com certeza esse leque pode ser uma grande sacada para um texto mais longo.

Obrigado

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