quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Noturno



Acoitadas pelo bafo de outono
Assisto impassível  
O último voo das mortas folhas decaídas

súbito desapego invade a alma
inércia incita devaneios
aos ouvidos chegam
soturnos murmúrios longínquos

desvario forja a alma aos lampejos
torpor aos poucos me dilacera
os sentidos me abandonam,
cães  vagabundos

sou o que tudo vê, o que tudo sente
sou um todo: nem pés, nem cabeça,
sou único, ouço com os pés e vejo
a tudo com todas as células.

sou em todo vida e sentido:
sou a chuva que viaja ferindo
rasgos na terra.

raio inflamado que cai
reluzindo a floresta escura
sou a própria floresta em chamas

sou aquele boi que berra
temendo de mim mesmo meu sacrifício
escondo-me de min.

sou a noite lasciva que seduz meu caminhar,
e, caminhando em círculos,
perco-me em mim mesmo.

desejo com ambição o céu
vivo ardentemente à terra!

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